terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Saldo amplamente negativo no UFC 92

O UFC 92, disputado na madrugada de sábado para domingo passado, foi considerado por muitos como o melhor card da história do evento. O octógono montado na MGM Grand Garden Arena, em Las Vegas, viu na luta principal Forrest Griffin colocar seu cinturão dos meio-pesados contra o invicto Rashad Evans. Antes, a lenda brasileira Rodrigo "Minotauro" Nogueira também colocou seu cinturão interino dos pesados em jogo contra o ex-campeão Frank Mir. Outro brasileiro, Wanderlei Silva deu a segunda revanche para Quinton "Rampage" Jackson, depois de duas lutas nos ringues do Pride. E o francês Cheick Kongo enfrentou o estreante libanês Mostapha al-Turk.

Wanderlei Silva x Quinton Jackson

Uma das maiores rivalidades do MMA atual teve seu terceiro capítulo no UFC 92. Wand havia massacrado Rampage duas vezes no PRIDE, abusando das joelhadas. Na segunda luta inclusive deixou o adversário pendurado nas cordas. Os lutadores já trocaram empurrões em várias oportunidades e não escondem de ninguém que se odeiam. Na luta de sábado, sequer tocaram luvas no início do combate.

Mas aquilo ficou no passado. Rampage melhorou muito. Wand parece que não tem mais o sangue nos olhos que o caracterizava no PRIDE. Sobrou ainda a velha fúria de cachorro louco, mas que nem sempre é suficiente no MMA atual. Traumatizado com as derrotas brutais, certamente Rampage estudou bastante o estilo de Wand. E assim viu que, quando dispara seus ataques selvagens, o brasileiro parece não cogitar a hipótese de sofrer um contragolpe, pois parte alucinadamente com a guarda totalmente aberta. E aos 3 minutos do primeiro round, Rampage achou a brecha que precisava, encaixando um poderosíssimo cruzado de esquerda por cima da guarda aberta, acertando em cheio no queixo de seu antigo nêmesis, que simplesmente desconectou, caindo desacordado. O negócio ficou tão feio que o brasileiro sequer teve condições de dar entrevista depois da luta, pois ficou cerca de dez minutos estirado na lona em estado precário, recebendo atendimento médico.

Wanderlei precisa tomar uma decisão: ou desiste das lutas de alto nível, principalmente no UFC, que tem a divisão de Light Heavyweight bastante perigosa, ou aprende a lutar de modo completo, atacando e se defendendo, adaptando seu modo de luta ao adversário, em vez de só tentar bater. Como acredito que Wand talvez não tenha mais paciência para aprender nada novo depois de 13 anos de profissionalismo, pode ser que esteja na hora de voltar pra casa. Rampage volta a se postar como sério aspirante ao título que lhe foi tirado por Forrest Griffin, em julho.

Frank Mir x Rodrigo Nogueira

Os lutadores foram os técnicos da última edição do reality show The Ultimate Fighter, vencido pelo Team Nogueira. O brasileiro, um dos maiores pesos pesados da história do MMA, chegou com o retrospecto invejável de jamais ter sido nocauteado ou finalizado em 37 lutas de MMA profissional, mesmo tendo enfrentado por três vezes a lenda Fedor Emelianenko. Suas quatro derrotas na carreira foram por pontos. Mas tudo tem sua primeira vez.

Para quem se diz um excelente boxeador (pelo menos para os padrões do MMA), Minotauro deu um show de incompetência na luta. Apesar de mais leve, Minotauro se movia com mais dificuldade no octógono. Mir, ex-campeão do UFC, se movimentou com bastante agilidade para um cara de seu tamanho e peso.

A luta, que muitos acreditavam que seria decidida no chão, pela característica principal dos dois, ocorreu praticamente inteira em pé. Muito mais ágil, Mir abusou das combinações de jab, direto e uppers longos, que entravam sem maiores dificuldades na guarda do brasileiro. Minotauro em momento algum da luta foi visto usando algum sistema defensivo decente: não tentou esquivas, não pendulou, sua cabeça ficava parada como um alvo fixo e seu jogo de pernas foi um desastre. Apenas confiou no bloqueio dos golpes com as mãos. E isso já está provado há pelo menos uns 80 anos que é um convite à lona.

Ainda no primeiro round de uma luta prevista para cinco (valia o cinturão interino dos pesados), Mir mandou Minotauro para a lona por duas vezes, depois de atingir diversas vezes o rosto do adversário. Percebendo que o caminho para a vitória era em pé, Mir se recusava a ir para o chão. Sempre que sofria um knock down, Minotauro tentava atrair o adversário para a guarda.

No intervalo para o segundo round, Amaury Bitetti deu um esporro em Minotauro, mandando o lutador buscar a luta no chão em vez de ficar boxeando em pé. Teimoso, Minotauro insistiu na tática errada e o resultado foi catastrófico: com pouco menos de 2 minutos, Mir encaixou dois uppers de esquerda no queixo de Minotauro, mandando-o para a lona. O rápido ground'n'pound foi interrompido pelo árbitro Herb Dean. Minotauro achou a decisão precipitada, mas quando se levantou cambaleando e trocando os pés, mostrou que a decisão de interromper a luta fora acertada.

Diferente de Wand, Minotauro ainda tem boas chances de recuperar o cinturão. Ele ainda é melhor do que os top contenders da divisão no UFC, Brock Lesnar, Frank Mir e Randy Couture. Mas precisa urgentemente rever sua tática de luta. Ficar boxeando, levando soco o tempo inteiro, esperando a hora de ir pro chão e finalizar, confiando que tem uma resistência sobre-humana é um convite para nocautes que podem se tornar cada vez mais freqüentes. Especula-se que sua próxima luta possa ser contra o ex-campeão Randy Couture.

Frank Mir deu um show de humildade na entrevista depois da luta: “Não tinha idéia que essa luta poderia terminar antes dos cinco rounds. E se fosse uma luta rápida, me imaginava perdendo. Enfrentei um monstro mitológico. Nunca estive com tanto medo como quando entrei no ringue esta noite. Passei por muitas dificuldades após meu acidente, e voltar para enfrentar o melhor peso pesado que já lutou no UFC e vencer depois de tudo o que passei... Provei que posso fazer as coisas. Nem eu imaginava poder vencer Nogueira”. Mir tentará unificar o título dos pesados contra o gigante Brock Lesnar, a quem inclusive já finalizou em março, no UFC 81. Se mantiver a forma e a pegada, tem grandes chances de obter êxito.

Rashad Evans x Forrest Griffin

No encontro entre os vencedores da primeira e segunda edições do The Ultimate Fighter, não adiantou muito a minha torcida pelo Griffin. O lutador, ex-policial da Georgia, não é um primor de lutador, tecnicamente falando. Forrest é daqueles carniceiros com muita vontade e resistência, se transforma quando vê sangue (principalmente nele próprio). Rashad é mais técnico e se movimenta melhor no octógono. Estava solto na luta de sábado.

Detentor do cinturão, Forrest até começou bem a luta. Acertou bons chutes e socos e levou a melhor na trocação nos dois rounds iniciais.

Mas no terceiro round, um poderoso cruzado de esquerda, que já vitimara Chuck Liddell, encerrou uma seqüência avassaladora e mandou Forrest para a lona. Griffin parecia ter encaixado o golpe, mas Rashad partiu para um violento grond'n'pound, socando a cabeça de Griffin, que quicava na lona e voltava contra as mãos de Rashad. Diferente da luta anterior, desta vez o árbitro demorou a interromper. Griffin já havia batido, mas o árbitro Steve Mazzagatti não viu.

Novo dono do título na divisão mais disputada do UFC, Rashad, invicto em 19 lutas, agora virou alvo de muita gente boa: Quinton Jackson, Lyoto Machida (ou Thiago Silva, caso vença Lyoto), Mauricio Shogun (que vai pegar Mark Coleman no UFC 93), Dan Henderson e Rich Franklin (que subiram de categoria e se enfrentam no UFC 93), além do próprio Forrest Griffin estão de olho no cinturão dos meio-pesados.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A volta da lenda


Uma notícia que pode ser boato, mas já me deixa ouriçado só por imaginar que possa acontecer. Depois de vencer Oscar de la Hoya de modo incontestável, o filipino Manny Pacquiao acabou acertando em outra lenda. Floyd Mayweather Jr., aposentado campeão mundial invicto, pretende voltar aos ringues para tirar de Pacquiao o título de melhor lutador do mundo peso por peso. A foto histórica acima mostra Floyd com os seis cinturões que conquistou (e ninguém jamais lhe tirou) na carreira. Floyd enfileirou os títulos na superpena (59.0 kg), leve (61.2 kg), superleve (63.5 kg), médio-ligeiro (66.7 kg), meio-médio (69.9 kg) e de volta para médio-ligeiro.

Mas, para ficar ainda melhor a boataria, Mayweather faria uma luta preparatória antes de enfrentar o Pac-Man. E esta seria contra o britânico Ricky Hatton, última vítima de Floyd. Aliás, foi a única vez que Hatton perdeu em 46 lutas (ele tem 45 vitórias). Para aumentar ainda mais as expectativas, o provável treinador de Hatton para esta luta pode ser Floyd Mayweather Sr., pai de Mayweather Jr. Os dois não se dão bem e Floyd era treinado por um tio. Como dizem que o próximo adversário de Pacquiao seria Hatton, os advogados e empresários do britânico estão vendo qual será a melhor opção para o lutador.

Só de imaginar ver novamente uma lenda do porte de Mayweather em ação já seria sensacional. Contra Pacquiao então, é quase um sonho. De todos os lutadores que vi em ação, Floyd foi, sem dúvida alguma, o mais talentoso deles, seja lá qual o peso fosse. Técnica impecável, sempre em plenas condições atléticas, com perfeitas táticas de luta, Floyd é um gênio daqueles que aparecem de vem em raro em qualquer esporte. Aos 32 anos, certamente ainda tem o que mostrar, para deleite dos fãs. É uma grande oportunidade para quem nunca viu este fenômeno em ação.

Já comecei a torcer para estas lutas acontecerem mesmo!

domingo, 21 de dezembro de 2008

Na luta em que todos perdem, o boxe lamenta


Joe Louis, Sugar Ray Robinson e Rocky Marciano devem ter dado cambalhotas de desgosto em seus túmulos. O russo Nikolai Valuev manteve seu título mundial pela Associação Mundial de Boxe ao vencer por pontos (decisão majoritária) o americano Evander Holyfield. Mas, para desgosto dos fãs de boxe, foi uma luta horrorosa, com um resultado final contestável, fatos que só contribuem com o declínio da modalidade, antes chamada de Nobre Arte.

Assisti à luta em VT pela Band. Como aconteceu em Zurique, teria passado ao vivo às 17:00h no Brasil. Pelo menos conseguimos ver em TV aberta. Pior para os americanos, que viram em pay-per-view analógico (imagine ver uma luta horrorosa daquelas em HDTV), com um undercard igualmente horroroso, sem tradução das instruções de corner nem das entrevistas pós-luta do Valuev. Pagar para ver aquilo é digno de reclamação no Procon.

Eu estava num bar com alguns amigos e por isso vimos a luta sem som. Isso nos ajudou a ver imparcialmente, sem narradores ou comentaristas puxando sardinha para ninguém, sem ser balançado pela preferência do público. Tudo bem que a transmissão era favorável ao americano. Ainda assim não teve um sentado à mesa que concordasse com o resultado de 116-112, 115-114 e 114-114, recebido com vaias pelos 12.500 presentes ao Hallenstadion, que os juizes tiveram a cara-dura de apresentar. Na minha opinião, o melhor a se fazer era decretar os dois derrotados e devolver o cinturão para a AMB.

Como diabos um lutador como Nikolai Valuev é campeão mundial? Totalmente fora de forma, sua atuação foi uma desgraça para um campeão mundial. Parecia que o velho era ele. Seu cinturão foi conquistado depois de vencer o fraquíssimo americano John Ruiz, quando o título estava vago, pois o campeão Ruslan Chagaev (único a vencer Valuev) estava machucado. Aliás, Chagaev também é fraco demais. Existe um debate sobre quem é o verdadeiro campeão mundial dos pesos pesados. A única coisa que sei é que ele tem o sobrenome Klitschko...

Como diabos um lutador velho e com problemas cardíacos, inativo há mais de um ano, que morreu depois do oitavo assalto, pode ser novamente aspirante a um título mundial?

E como diabos os juizes dão a vitória para um cara que não fez nada na luta inteira? O resultado de 116-112 a favor do russo só pode ser explicado por corrupção (infelizmente comum no boxe atual) ou incompetência do juiz italiano Pierluigi Poppi. Não que Holyfield tenha feito uma boa luta. Sua atuação também foi lastimável. Mas pelo menos ele tentou, tomou iniciativa, movimentou-se enquanto agüentou, lançou socos (todos absorvidos pela cabeçorra do russo). Foi muito pouco, mas mais do que Valuev fez para merecer a vitória. Certamente foi a luta menos movimentada que eu vi na vida. Não foram raros os assaltos onde NENHUM soco contundente foi lançado. É difícil até pontuar um troço horrendo assim. Nunca vi algo tão ruim na vida no boxe. E olha que ja vi Luciano "Tododuro" Torres, Aurelio "Toyo" Perez, Reginaldo "Holyfield" Andrade...

A única coisa boa da luta foi a apresentação sempre genial de Michael Buffer e seu lendário bordão "Let's get ready to rumble!!!" Mas nem isso eu ouvi, pois, como disse, a transmissão no bar estava sem som. Dos amigos presentes à mesa, Daniel disse, com razão, que só "volta a ver boxe novamente em lutas antigas, os atuais nunca mais". João, também coberto de razão, ficou transtornado com o resultado final. Pedro, como eu, ficou tentando imaginar por que os juizes deram aquele resultado (como se aquilo tivesse explicação). Melhor fez o Barretto, que cochilou na mesa depois do terceiro assalto.

Agora especula-se que Valuev colocará o cinturão em jogo contra Ruiz ou Chagaev, em mais uma luta feia. Não, obrigado. Peguem Ruiz e Chagaev, juntem a Samuel Peter, Hasim Rahman, Sultan Ibragimov e Oleg Maskaev e joguem no lixo. Depois coloquem o gigante para enfrentar um dos irmãos Klitschko. Certamente Wladimir ou Vitali tomariam o cinturão dele e reinariam como campeões dos pesados em todas as entidades (Vitali tem o cinturão do CMB, Wlad tem da FIB, OMB e OIB). Pelo menos seria mais justo com o esporte.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Pra que isso?


Neste sábado, 20 de dezembro, em Zurique, Suíça, o ex-campeão mundial de pesos pesados Evander Holyfield volta aos ringues (de novo), depois de mais de um ano de inatividade. Mas aos 46 anos, depois de ter sido diagnosticado com problemas no coração, a parada será indigesta. Seu adversário será o campeão mundial pela Associação Mundial de Boxe (AMB), o russo Nikolai Valuev. Mas a parada será indigesta porque o russo tem um cinturão? Claro que não. Holyfield é experiente, já lutou contra campeões como Mike Tyson, Lennox Lewis e George Foreman. O grande problema (e bota grande nisso) é o cenário de filme de terror que está sendo desenhado.

Valuev tem incríveis 2,13m e 145kg. Tente se imaginar num ringue de boxe contra um cidadão com simplesmente 24cm e 50kg de superioridade em relação a você. E onze anos a menos, sem ter estado inativo. E sem nenhum problema de coração. Conseguiu? Ficou com medo? Pois é...

O russo é um lutador lento (óbvio), não é tão técnico quanto os irmãos Klitschko, mas tem uma marretada pesadíssima em seus punhos. E tem um aliado poderoso: vai socar para baixo. Só quem já entrou num ringue ou já esteve envolvido em alguma luta de socos sabe o quanto isso é importante. Em contrapartida, Holyfield precisará socar para cima, onde vai perder muita potência por conta disso. Imagine então socar perdendo potência e ainda tendo que deslocar uma massa do tamanho do Valuev, com todos os pontos contra que o americano tem hoje. É praticamente impossível. Enquanto Holyfield tem um cartel profissional de 42 vitórias, 9 derrotas e 2 empates, Valuev só perdeu uma luta em 50 disputadas.

Mas por que Holyfield vai encarar este pesadelo? Está sendo divulgado que ele quer tirar de Foreman o título de mais velho campeão mundial dos pesados da história. Mas não é bem assim. Evander, que recebeu as duas maiores bolsas da história do boxe, nas lutas contra Tyson, é um homem endividado. Só de pensão para os ONZE filhos ele desembolsa meio milhão de dólares por ano. Pra quem já ganhou cerca de 200 milhões de dólares apenas em bolsas...

Só nos resta torcer para que nenhum dano mais grave aconteça ao Evander Holyfield.

domingo, 7 de dezembro de 2008

O Pac-Man destruiu o Golden Boy


Oscar de la Hoya foi um gigante em sua carreira e merecia se aposentar em grande estilo. Mas para isso devia ter escolhido outro adversário. Manny Pacquiao confirmou sua condição de atual melhor lutador do mundo e massacrou o Golden Boy agora há pouco, em Las Vegas. Eu nunca tinha visto uma luta em que De la Hoya tivesse apenas apanhado, nem contra Shane Mosley, Bernard Hopkins, nem contra Floyd Mayweather.

A diferença de altura e de alcance a favor de De la Hoya era visível desde o começo, mas a diferença de velocidade a favor de Pacquiao era ainda mais gritante. Durante todo o combate o filipino se mostrou espetacular, enquanto o americano era ordinário. Nos quatro primeiros assaltos da luta, a cabeça do Golden Boy era um alvo estacionário, enquanto a movimentação do Pac-Man impedia os contra-ataques do adversário e deixava a torcida em êxtase (muitos filipinos moram em Las Vegas).

O quinto foi o melhor assalto de De la Hoya e ainda assim Pacquiao foi superior. O olho direito do americano começou a sangrar. Pacquiao não dava sinais que diminuiria o ritmo, fazendo uma luta perfeita em todos os aspectos. Parecia uma luta entre um aposentado de 50 anos e um campeão mundial com metade da idade.

O sétimo assalto foi provavelmente o pior da carreira de De la Hoya, que sequer esboçava reação diante do massacre que lhe era aplicado. Houve um momento que Pacquiao encurralou De la Hoya no corner e bateu tanto que parecia que o árbitro encerraria o combate. No intervalo do round, seu treinador disse que se não começasse a mandar golpes, jogaria a toalha. O oitavo foi quase uma continuação do anterior. Nem mesmo um soco "achado" poderia salvar De la Hoya, porque ele simplesmente não lançava nenhum golpe minimamente perigoso. Seu corner o convenceu a não voltar para o nono assalto, acabando assim com a punição e decretando a vitória por nocaute técnico para Manny Pacquiao. Oscar de la Hoya andou até o centro do ringue para cumprimentar o adversário, que lhe falou: "Você ainda é meu ídolo". Imediatamente o Golden Boy respondeu: "Você que é o meu". Nas entrevistas depois da luta, o americano aceitou a derrota, não inventou desculpas e apenas se queixou de seu físico, que não é mais o mesmo aos 35 anos.

Para se ter uma idéia do tamanho do massacre, vejam as estatísticas de socos: De La Hoya acertou ridículos 83 golpes em 402 tentados (aproveitamento pífio de 21%); Pacquiao acertou quase o triplo, 224 de 585 (38%). O total de socos fortes foi ainda mais bizarro: De La Hoya acertou 51 de 164 (31%), enquanto Pacquiao disparou 195 petardos de 333 (59%), justificando o apelido de "Little Tyson". Quando a luta foi interrompida depois do oitavo assalto, dois juízes marcavam 80-71 e o terceiro, 79-72 (deve enxergar mal...) a favor do filipino.

Ricky Hatton, campeão mundial dos superleves pela Organização Internacional, que estava presente à luta, deve ter saído preocupado com o futuro. O Pac-Man, detentor do cinturão dos leves, sai de Las Vegas ainda mais fortalecido, ainda mais dono da condição de melhor pound-for-pound da atualidade, mesmo lutando duas divisões acima de seu peso normal. A próxima luta de Pacquiao deve ser contra Hatton.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Golden Boy vs Pac-Man: O Combate dos Sonhos

Esta é a semana do boxe no Arquibancada Digital. Depois de posts sobre Sugar Ray Robinson e Joe Louis (ainda estou devendo o de Rocky Marciano), hoje vamos falar da luta que está sendo chamada de Dream Match, disputada no MGM Grand Hotel, em Las Vegas, na madrugada de hoje: o Golden Boy Oscar de la Hoya enfrenta simplesmente o atual melhor lutador do mundo em todos os pesos, o filipino Manny Pacquiao. Caso vença, será a despedida oficial do Golden Boy dos ringues.

O combate vale pela divisão dos meio-médios (até 66,678 quilos). Como subira de peso, De la Hoya não luta há nove anos nesta categoria. Já Manny Pacquiao jamais subiu tanto de peso para lutar. Inclusive este detalhe deu muito o que falar nos EUA: o Conselho Mundial de Boxe não queria autorizar o combate, por causa da diferença de tamanho entre os lutadores. O americano, com 1,80m, tem 11cm a mais que o filipino. O Pac-Man jamais lutou em categoria acima de 60kg, enquanto o Golden Boy enfrentou o mito Floyd Mayweather Jr. na categoria de 72kg.

Oscar de la Hoya, 35 anos, é o maior ídolo mundial do boxe atualmente. Além de ser um espetacular lutador, é muito carismático e tem hordas de fãs (principalmente feminino) pelo mundo. Foi campeão mundial por incríveis 10 vezes, em seis categorias diferentes, além de ter sido campeão olímpico em Barcelona-92. Ajudou a aposentar o lendário Julio Cesar Chavez, aplicando duas sovas no mexicano. Além de Chavez, venceu outras 40 lutas, incluindo grandes lutadores do naipe de Miguel Angel Gonzalez, Pernell Whitaker, Hector Camacho, Wilfredo Rivera e Shane Mosley. Só perdeu três vezes, todas para lutadores lendários: Felix Trinidad, Bernard Hopkins (que hoje é meio-pesado) e Floyd Mayweather Jr. Ele recebeu uma homenagem em Los Angeles, uma estátua de 5m de altura feita de bronze, na frente do Staples Center.


Manny Pacquiao, também chamado de "Mini Tyson", será um adversário de respeito. Ele é considerado o melhor lutador pound-for-pound desde a aposentadoria de Mayweather. O lutador, ídolo nacional nas Filipinas, é o atual campeão mundial dos leves pelo Conselho. Antes já fora campeão mundial nas divisões mosca, supergalo, pena e superpena. Foi o primeiro asiático a conquistar quatro títulos mundiais em categorias diferentes. Com um cartel de 47 vitórias, 3 derrotas e 2 empates, Pacquiao venceu nomes como Marco Antonio Barrera, Érik Morales (que o derrotou no primeiro encontro) e Juan Manuel Márquez. Esta luta será pela terceira categoria diferente que Pacquiao faz no mesmo ano, um feito incrível. Em 2008 ele já conquistou os títulos dos superpenas e dos leves.

A luta terá alguns ingredientes picantes: no ano passado, Pacquiao chegou a assinar um pré-contrato com a Golden Boy Promotions, empresa de Oscar de la Hoya, recebendo inclusive um adiantamento de 300 mil dólares. Mas o filipino mudou de idéia e assinou com a Top Rank, de Bob Arum, ex-gerenciador da carreira de De la Hoya. O americano disse: "Nunca imaginei enfrentá-lo, mas agora não vejo a hora de subir no ringue e vencê-lo. Não ficarei nada satisfeito se não for por nocaute. Ele vai me pagar.".

Outro detalhe interessante é que o treinador do Golden Boy na luta contra Mayweather, Freddie Roach, foi dispensado por ter sido acusado de ter errado na tática e na preparação para a luta. Hoje Roach estará no corner do Pac-Man.

Tantos ingredientes fazem esta luta ser inesquecível. De la Hoya tem o favoritismo de 9 para 5 nas casas de apostas, muito pela diferença de peso e altura, elevada para os padrões do boxe. Pela idade e por estar em grande forma, Pacquiao pode vencer. Vou torcer por uma vitória do Golden Boy, que merece se aposentar em grande estilo. Pacquiao deverá enfrentar o britânico Ricky Hatton, na grande luta de 2009, pelo título mundial dos leves.

Não perca o Combate dos Sonhos, que deverá começar lá pelas 02:30 da madrugada de domingo, dia 7. A luta será transmitida pelo canal HBO Plus.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O gênio dos pesados


A primeira coisa que me vem à cabeça quando falo de Joseph Louis Barrow é: pena que não vi este sujeito em ação... Conhecido mundialmente como Joe Louis, o Brown Bomber é, sem sombra de dúvidas (obviamente na minha opinião), o melhor peso-pesado da história do boxe. Só para citar um dos feitos deste cidadão, nenhum pesado defendeu por tantas vezes o cinturão mundial. Louis se tornou campeão em junho de 1937 e perdeu o título em junho de 1948, depois de 25 defesas com sucesso. Encerrou a carreira com um cartel de 68 vitórias (54 por nocaute) e 3 derrotas. Entrou para o Hall da Fama do Boxe em 1990.

Joe Louis se profissionalizou em 1934. Venceu 27 lutas seguidas, sendo 23 por nocaute. Nesta fila, enfileirou ex-campeões mundiais, como o italiano Primo Carnera (nocaute no sexto) e o americano Max Baer (nocaute no quarto). Na 28ª, encarou no Yankee Stadium o também ex-campeão, o alemão Max Schmeling e foi nocauteado no 12º assalto.

Rapidamente se recuperou da derrota e venceu mais sete lutas, quando ganhou a chance de disputar o título. Em 22 de junho de 1937 encarou o campeão mundial James J. Braddock, o Cinderella Man (mostrado no filme "A Luta pela Esperança", com Russell Crowe). Jim foi nocauteado no oitavo assalto, quando chegou a perder os sentidos. Joe Louis se tornou o primeiro negro americano campeão desde Jack Johnson, em 1908, fato este que levou os fãs de Braddock a vaiar aquele negro, neto de escravos, que ousava vencer um branco numa sociedade racista.

Golpes Curtos

O estilo único de Joe Louis o fez virar herói nacional do porte de Babe Ruth, grande ídolo do beisebol. Dono de rápidos jabs, Louis tinha mãos pesadíssimas. Tinha um cruzado de direita tão devastador quanto o upper de esquerda. E o mais incrível em seu estilo eram os golpes curtos. Dizia-se na época que um soco de Louis precisava viajar por apenas 15 centímetros para deixar o adversário inconsciente. Em 2003, a revista Ring Magazine nomeou-o como o maior pegador da história do boxe, na Ring Magazine's 100 Greatest Punchers. Pena que Joe não estava entre nós para receber a honraria, pois faleceu em 1981.

Joe Louis vs Max Schmeling

Depois de vencer o negro Louis em 1936, Schmeling virou herói nacional na Alemanha nazista, uma prova viva da doutrina da "superioridade ariana". Em 1938, foi marcada a revanche. Joe se refugiou em seu centro de treinamento e se preparou incessantemente para a luta. Foi recebido na Casa Branca pelo presidente Franklin Delano Roosevelt, que disse: "Joe, precisamos de músculos como os seus para vencer a Alemanha".

Exatamente um ano após vencer Braddock, Joe enfrentou Max novamente, agora valendo o cinturão. Mas desta vez a luta foi bem diferente. Diante de 70.000 pessoas no Yankee Stadium, Louis destruiu Schmeling em apenas um dois minutos e quatro segundos. O Brown Bomber largou uma saraivada de golpes na cabeça e no corpo do adversário, que mandou-o para as cordas. Continuando o massacre, Joe lançou Max à lona por três vezes. Na terceira queda, o técnico alemão teve pena de seu pupilo, que só tinha tentado dar dois socos até então e jogou a toalha.

Esta revanche foi considerada uma das melhores lutas de todos os tempos e um dos maiores eventos esportivos do século XX.




Honrarias


Além de ser considerado o número 1 da Ring Magazine's 100 Greatest Punchers e de ser considerado o melhor peso-pesado da história por muitos especialistas, Joe Louis também dá nome ao ginásio do Detroit Red Wings, time de hockey da NHL. A Joe Louis Arena tem uma estátua de bronze do filho favorito da cidade na entrada (apesar de ter vivido em Detroit, Louis nasceu na cidade de La Fayette, no estado do Alabama).

O Congresso Nacional americano ainda o agraciou com uma medalha de ouro, a honraria mais alta oferecida pelo legislativo americano.

Frases marcantes

"Ele pode correr, mas não pode se esconder"
De Joe Louis, antes de enfrentar Billy Conn, então campeão mundial dos meio-pesados, mais leve e mais rápido que Joe. Conn disse que usaria a tática de bater e correr para vencer, que deu certo por 12 vitoriosos assaltos. Mas acabou nocauteado no 13º.

"Todo mundo tem um plano de luta, até ser atingido"
De Joe Louis, antes de uma luta. Esta frase ficou tão famosa que foi usada até no filme "A Sombra e a Escuridão".

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Pound For Pound

Nascido Walker Smith Jr. em 3 de maio de 1921, o americano Sugar Ray Robinson foi campeão mundial das divisões meio-médio e médio. O apelido de Sugar veio na fase amadora, por causa do estilo que fluía com ritmo adquirido em aulas de balé. Ray Robinson era o nome de um amigo que Sugar usou a inscrição de boxeador na União Atlética Amadora para freqüentar um ginásio para treinar.

Sugar teve um recorde de 85 vitórias, invicto, como amador, com 69 nocautes, 40 no primeiro assalto. Foi campeão do New York Golden Gloves aos 19 anos e se profissionalizou logo depois, ainda em 1940. Onze anos depois já tinha o incrível cartel profissional de 128-1-2, com 84 nocautes. Foi campeão dos meio-médios entre 1946 e 1951, quando conquistou o título dos médios. Se aposentou em 1952, voltou dois anos e meio depois, para reconquistar o título dos médios em 1955. Foi o primeiro lutador a ser campeão mundial cinco vezes, o último deles conseguido aos 38 anos. Aposentou-se com 202 lutas profissionais, com um cartel de 175-19-6, com 2 no contest, em 26 anos.

Robinson tinha uma versatilidade imensa, mostrava potência e habilidade com ambos os punhos. Era dono de rápidos jabs e grande potência nos golpes, considerado o dono do mais vasto repertório da história do boxe. Adquiriu um nível de treinamento tão elevado que dizia: "Eu não penso no ringue. É tudo instinto. Se você parar para pensar, está acabado!". O termo pound-for-pound, largamente usado para comparar lutadores de categorias diferentes, foi motivado por Robinson. A foto acima é a capa da biografia do lutador.

Sugar Ray Robinson faleceu em 12 de abril de 1989, quando sofria do Mal de Alzheimer.

Jake LaMotta e "O Massacre do Dia dos Namorados"


Muitas rivalidades existiram na carreira do gênio, mas a mais incrível foi contra Jake LaMotta, integrante do Hall da Fama. Eles lutaram seis vezes, com cinco vitórias de Sugar. Venceu a primeira, em outubro de 1942, na decisão unânime por pontos. Invicto em 40 lutas, Sugar perdeu a revanche para LaMotta, 7kg mais pesado, no ano seguinte. Foi derrubado no oitavo assalto e perdeu por pontos. Vinte e um dias depois (isso mesmo!), voltaram a se enfrentar e Sugar venceu pela segunda vez. Em 1945, mais duas vitórias de Sugar por pontos.

A última delas, em 14 de fevereiro de 1951, teve o apelido de "St. Valentine's Day Massacre", o dia dos namorados dos EUA. LaMotta era o campeão dos médios e foi surrado impiedosamente por Robinson. O final do combate foi uma das coisas mais impressionantes que já vi. Sugar batia de todos os modos, LaMotta apenas encaixava (assimilava), mas não acertava nenhum contra-golpe. Robinson, exausto de tanto bater, não conseguiu colocar o adversário na lona. A luta foi interrompida pelo árbitro no 13º assalto, com LaMotta entregue, quase pendurado nas cordas. No final, Jake se aproximou de Sugar e disse: "Você não me derrubou. Você nunca conseguiu me derrubar.". O vídeo abaixo mostra o incrível final da luta.

O combate foi visto por mais de 60 milhões de pessoas, na maior audiência esportiva até então.




Honrarias

Melhor lutador do século XX, pela Associated Press.
Melhor lutador peso-por-peso de todos os tempos, pela Ring Magazine, em 1997.
Melhor lutador de todos os tempos, pela ESPN.com, em 2007.
Décimo-primeiro na lista dos 100 Greatest Punchers, pela Ring Magazine, em 2003. Mike Tyson é o 16º.

Frases Marcantes

"Alguém um dia fez uma comparação entre Sugar Ray Leonard e Sugar Ray Robinson. Acredite em mim, não há comparação. Ele foi o maior."
Sugar Ray Leonard, ex-campeão mundial e integrante do Hall da Fama

"Sem dúvidas o melhor lutador peso-por-peso que já viveu."
Jake LaMotta

"O rei, o mestre, meu ídolo."
Muhammad Ali, ex-campeão mundial dos pesados e integrante do Hall da Fama

"O melhor lutador que já pisou em um ringue."
Joe Louis, ex-campeão dos pesados, integrante do Hall da Fama e amigo de Sugar

Vídeocassetada no MMA

Meu amigo Pedro p8 mandou este vídeo, um trecho do programa Inside MMA, apresentado pelo ex-lutador holandês de Muay Thai e Pancrase Bas Rutten e por Kenny Rice. O que aconteceu na luta exibida foi hilário, raramente visto em qualquer evento de luta. Coisa de desenho animado do Walter Lantz.

A luta aconteceu em Indianapolis, entre Tyler Bryan and Shaun Parker.