domingo, 13 de julho de 2008

Rest In Peace


Um post de boxe, como assim? O Alexandre ficou louco? Quem se interessa por isso?

Estas perguntas, inimagináveis até os anos 80, infelizmente tornaram-se comuns mundo afora. Até mesmo amantes de lutas perderam o interesse pelo boxe, que já foi um esporte de massa. Hoje em dia o MMA tomou o lugar que um dia foi da Nobre Arte.

Desde pequeno sou fã de lutas em geral e do boxe em particular. Tive inclusive vontade de me tornar lutador (vontade que vem sendo parcialmente consumada, depois que passei a treinar numa academia perto de casa, como um exercício complementar à musculação e anti-estresse). Cansei de ficar acordado até tarde da noite vendo lutas na Bandeirantes, no SBT, na Globo. Mas com o passar do tempo, ver lutas virou quase uma caçada ao Santo Graal. Chegou ao ponto que até para ler notícias ficou difícil. São raríssimas publicações em língua portuguesa, até mesmo online, que gastam algumas linhas com o boxe. Até o site Ringue, que muito me informou, está encerrando suas atividades. Só nos resta os portais estrangeiros.

Mas o que causou esta queda? Cartéis forjados, lutas arranjadas, entidades de fachada que fabricam campeões idem, empresários sórdidos e inescrupulosos que só pensam em ganhar dinheiro às custas do esforço alheio, falta de ídolos. Motivos que tornaram o boxe um produto de baixo interesse não faltam. No Brasil, com sua pobre cultura esportiva, o boxe é inviável. Acelino “Popó” Freitas foi o último suspiro do boxe no Brasil, mas só porque era um brasileiro bem colocado no cenário mundial. Depois dele, mais nada.

A total falta de cobertura das TVs abertas ajudou no declínio da modalidade. Mas se pensarmos bem, será que as TVs estão erradas? Como podemos cobrar transmissão de eventos em um esporte totalmente desacreditado? Atualmente existem tantas entidades promovendo rankings que qualquer luta vale por um título mundial. Na maioria das vezes confronta dois pugilistas pernas-de-pau (ou seria mãos-de-pau?). Realmente não tem quem ature uma coisa dessas.


Vejam a que nível chegamos. Quem é o número 1 do ranking mundial de tênis? Resposta fácil, Roger Federer. E o atual campeão mundial de Formula-1? Todos sabem que é Kimi Raikonen. O número 1 do surfe? Kelly Slater.

Agora me respondam: quem é o atual campeão mundial dos pesados de boxe? Wladimir Klitschko? Ruslan Chagaev? Samuel Peter? A resposta é: todos eles! Mas já não foi assim. Rocky Marciano era O campeão mundial dos pesados, assim como Muhammad Ali, Joe Louis, Mike Tyson, dentre outros. Não tinha essa de vários campeões, era um só e todos miravam nele para tentar o título. Até mesmo nos filmes é assim: Rocky Balboa era o campeão mundial, não tinha outro.


Diferente da ATP no tênis, da FIA na F1 e da ASP no surfe, o boxe não tem uma entidade respeitável organizando o esporte. São várias entidades e nenhuma delas respeitável, diga-se de passagem. WBC, WBA, IBF, WBO, IBC, IBA, WBF, WBU, é uma verdadeira sopa de letrinhas repleta de vigaristas, inclusive dentro dos ringues, o que é mais triste.

Imagine você, amigo leitor, sentado confortavelmente no sofá de sua casa num sábado de noite, para ver uma programação de lutas, que vai culminar com a decisão do título mundial. A última preliminar envolve um lutador japonês e um alemão. No quinto assalto o japonês nocauteia o alemão. O árbitro interrompe a luta, espera 30 segundos para que o alemão se recuperasse e reinicia o combate, diante da incredulidade do japonês (e de quem via a luta). O japonês venceu com sobras todos os demais assaltos, mas não conseguiu o nocaute. O resultado final foi uma vitória por decisão unânime do alemão.

Não, amigo, você não leu mal. E não, eu não estou inventando uma história. Isso realmente aconteceu e se repete mundo afora, numa quantidade desagradável. Como você se sente como telespectador, que deixou de sair com os amigos para curtir lutas na TV?


Não raro um lutador entrega uma luta a pedido do empresário. Lutadores vão à lona sem terem sido atingidos para tal. O árbitro conta 10 e encerra o combate. O “vencedor” comemora, na maior cara-dura. O cidadão que pagou ingresso se sente lesado. E provavelmente nunca mais volta para ver outra luta. Não vai participar de uma patranha dessa nunca mais.

Esta situação deplorável faz com que pessoas sérias percam a confiança no esporte. Por este motivo o Arquibancada Digital não dá credibilidade a nenhuma das entidades que "organiza" o boxe. Sempre citaremos o ranking computadorizado da IBO, uma entidade que não regula o boxe, não vende cinturões a empresários e categoriza os lutadores baseado apenas em dados objetivos, como o cartel. Veja aqui a declaração da missão da IBO. Esta organização quer trazer de volta ao boxe as palavras Integridade, Honestidade e Verdade, tão em falta no esporte.

O boxe respira por aparelhos. De vez em quando ainda aparece alguém que transcende esta confusão, como Oscar de la Hoya, Floyd Mayweather, Manny Pacquiao. Inclusive andei lendo que ainda em 2008 poderemos ver a revanche entre os gênios De la Hoya e o invicto Mayweather.

Enquanto isso o MMA agradece e segue crescendo, organizado, rico, sem falcatruas, tomando o interesse dos ex-amantes do boxe.

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